sábado, 31 de outubro de 2015


 
Voz de brisa

 

Eis que nos pampas a brisa toca sinos

na língua das plantas

o amor passeia na orla da vida

como o cão que brinca livre na praia

como a nuvem que molda sonhos ao redor dos nomes

 

os segredos nas translúcidas águas se banham

estrelas confidenciam olhares

esvaziam-se nas conchas os silêncios

 

a alma experimenta novo sentimento:

voz de brisa que e acaricia e perdoa as falhas humanas.

 

Rogério Germani

quinta-feira, 25 de junho de 2015

inspiraturas in-versos: Temporais, com Rogério Germani



TEMPORAIS

Dentro de mim,
raso feito segunda camada,
há um poço
lugar discreto onde guardo lágrimas

há em suas escoras
algumas lembranças tristes
alguns cantos íntimos
onde a alma( quando lança-
se
em temporais)
não mais chora

evapora.

Rogério Germani

sábado, 18 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Conciliábulo


Conciliábulo

Friamente mataram-no. Não por  piedade nem vingança. Mataram-no em nome da necessidade.
Ana defendeu-se com escusas lacrimosas. Quarenta anos de infelicidade. Só entrega em juras de amor e, em seguida, remorso nas despedidas; casamento fôra lenda insana. Sorte nunca a acompanhou; não pôde evitar, por amor fez o que fez.
Imerso em seus pensamentos, José suspira suas dores. Sempre foi o último eleito; ninguém acreditava em seus predicados. O fracasso era uma doença que roía-lhe os olhos- visão certa quanto carniceiros sobrevoando um próspero moribundo. Teve direito de querê-lo assim; assim estava justo, ele creu.
As crianças, sorrindo, confabulam sobre o fato. " Ele mereceu o castigo. Era carrasco por demais... Onde já se viu tantas proibições? Criança precisa de espaço."
Cláudia, farta em adjetivos e carnes, exalta-se. Bem feito para ele. Quem manda ridicularizar as pessoas? Esse é o preço a quem se satisfaz com decepções alheias; a condenação a quem delega anseios e medos diante dos críticos espelhos.
Os velhos, bengalas em riste, vociferam pragas." Desgraçado! Nunca mais será o mesmo; terá a mesma sina dos encarquilhados seres! Covarde sem escrúpulos! Assassinar nossos filhos foi desleal...Que todo o mal da Terra recaia sobre você, sua múmia vigilante!"
Um namorado, quilômetros afastado da amada, choraminga." Crápula! Por sua culpa, estou neste cárcere, longe dos meus sonhos. Nas trevas me encontro; respiro o vento do abandono, o inferno da inquietação solitária, Canalha! Seu fim será lindo como um verme!"
E, naquele domingo chuvoso e insosso, perante os olhos incrédulos, o cadáver despertou. Maliciosamente, fitou a todos; guardou-lhes as expressões passivas de espanto. Revelou-se: era o Tempo, o dono dos destinos e, em segundos seculares, novamente os matou. 

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O portal

  

O portal


Uma multidão de rostos atravessa meu corpo
Sem saberem-me vivo
Vão essências displicentes numa luta arrastada
Sem dizer ou deixar um Bom Dia, alheio!, uma lágrima
Ou um riso contido; apenas vão
Avançando o seu vagar contra o tempo.
Alguma alma perdida em sonhos, num instante
Fracionário de luz, algum tipo de sentimento
Acena: mistério.
Apenas lembranças de um perfume
Impregnando o ar, os pensamentos
Com sabor e rastro de uma vida passageira.
Agora, a plataforma são olhos meus
E o destino – solado gasto noutros olhos passantes
É  incógnito, rústico e belo como qualquer
                                                 Caminho aberto
A paisagem única e coletiva é solidaria
Nenhuma imagem segue sem ser revelada completa
Ou ao avesso nos braços da tarde
Da noite
Do dia em que damos o primeiro passo.
Tantas almas- bilhetes mágicos
Partem nos olhos lotados de encontros
Caminhos cruzados sem requerer bagagens.
Partem poesia breve... como uma sombra que passa
E, em silêncio, se recolhe.   

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quase sem querer- O livro de crônicas

Livro que reúne as melhores crônicas de Rogério Germani publicados no informativo Espaço Cultural!
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010



Noturno
a Gabriela Mistral


tabletes de trevas
iluminam mais os meus pés
que a volúpia das águas- chama marinha;
iluminam o canto e o mundo
com seus versos de límpido adorno,
iluminam os homens que brotam das sombras.

Das árvores escuras e espessas
onde guardam os seus sonhos as claras estrelas,
meu brado alcei:
lágrimas e flores colhi em camponesa alma
e, entre árduos mineiros e letras errantes,
a filha encontrei
amamentando os séculos e os anjos num peito aberto
[ de etérea mãe.