O portal
Uma multidão de rostos atravessa meu corpo
Sem saberem-me vivo
Vão essências displicentes numa luta arrastada
Sem dizer ou deixar um Bom Dia, alheio!, uma lágrima
Ou um riso contido; apenas vão
Avançando o seu vagar contra o tempo.
Alguma alma perdida em sonhos, num instante
Fracionário de luz, algum tipo de sentimento
Acena: mistério.
Apenas lembranças de um perfume
Impregnando o ar, os pensamentos
Com sabor e rastro de uma vida passageira.
Agora, a plataforma são olhos meus
E o destino – solado gasto noutros olhos passantes
É incógnito, rústico e belo como qualquer
Caminho aberto
A paisagem única e coletiva é solidaria
Nenhuma imagem segue sem ser revelada completa
Ou ao avesso nos braços da tarde
Da noite
Do dia em que damos o primeiro passo.
Tantas almas- bilhetes mágicos
Partem nos olhos lotados de encontros
Caminhos cruzados sem requerer bagagens.
Partem poesia breve... como uma sombra que passa
E, em silêncio, se recolhe.